12 abril 2009

Saudades da ``aborrescência``



 

Esses dias mais folgados devido ao feriado de páscoa fizeram-me ter a vontade de relembrar certas músicas que ouvia na fase conhecida como adolescência. Sendo assim, permiti-me fazer uma salada mista de estilos procurando desde um rock oitentista, alguma cantora pop nacional e internacional e até trilhas de filmes. É com certeza um exercício muito interessante e divertido. Uma mistura bem louca de recordações. 

A sensação de ``voltar`` ao passado por meio de sons é até parecida com a re-leitura de um livro com a diferença, é claro, de não ter a presença da imagem. Essa é representada pela imaginação, ilimitada e livre. Fico até pensando qual seria a trilha sonora desse meu clipe de lembranças montadas aleatoriamente na minha cabeça. O que tocaria? Talvez um Aerosmith seguindo de uma Legião Urbana.

Falar sobre o rock, quando se aborda a adolescência, é mais do que pertinente. Afinal, esse é muitas vezes associado à rebeldia. Melhor dizendo, variações do rock já que o estilo é tão rico em referências e misturas, além de sua capacidade de se reinventar com o tempo. Algo parecido ocorre na adolescência, essa fase normalmente compreendida por muitos como algo que começa aos 13 e termina (ou não) aos 20 anos. Há no adolescente uma espécie de instinto natural de se aventurar pelo mundo afora sem se prender a regras. Lembro até de um texto que li nessa fase em que o autor falava sobre o adolescente utilizando como referências características de personagens da mitologia grega. Curioso, não? Como se esses jovens seres fossem dotados de velocidades, forças e habilidades descomunais.

Lembro com gosto disso tudo porque ser adolescente é muito divertido, além de um marco na vida sem igual. É quando temos, em muitos casos, primeiras experiências com praticamente tudo, essas positivas ou não. Também é uma fase de descobertas que definem e moldam a identidade como um todo fazendo desse ou dessa jovem o que será por muitos e muitos anos. Por exemplo, a escolha de uma profissão é antes de qualquer coisa a decisão mais séria e, para muitos, algo que causa medo ao mesmo tempo, pois se trata de um momento muito importante e com caráter definitivo.

Enfim, tenho muitas saudades de ser adolescente e de uma época em que a vida era menos séria e mais imprevisível. Talvez seja por isso que o termo ``aborrecente``, pejorativo em partes, é tão utilizado para se referir ao adolescente em si, afinal, é um ser dotado de energias a mil e pronto para curtir a vida que se torna irritante, mas não em sua maioria, quando a realidade vira algo comum e chato.   

Respeitando o tempo



Certa vez, quando estava conversando com uma amiga, compartilhei com ela uma reflexão a respeito do tempo. Lembro de ter dito que essa entidade representa por elementos como passado, presente, futuro, antes, depois, agora, para sempre, entre tantos outros, tinha sua própria natureza de ser e de agir, muita vezes pouco compreendida por nós, seres humanos submetidos a ela. Não serei eu, é claro, que fará uma leitura exata do tempo. Não. O que pretendo nesse texto é justamente mostrar como compreendo a ação do tempo na minha vida.

Ontem ao rever essa mesma amiga, tive a oportunidade de relembrar fatos da minha vida nesses anos em que ela não esteve fisicamente ao meu lado. Um dado mais do que importante é a nossa amizade que, mesmo com a separação física ocorrida pelo retorno dela ao estado onde nasceu, se mantém como sempre foi, mas com características acrescidas pela maturidade de toda a relação forte e verdadeira como a nossa.

Ao contar sobre a minha vida e as mudanças ocorridas nela pude perceber com ar de surpresa a transformação por qual passei. Por mais clichê que pareça, é bem provável que eu faria tudo da mesma forma se pudesse reviver cada segundo. O melhor de tudo foi sentir orgulho da pessoa que me tornei após tudo que passei. Obviamente, o processo não acabou. Ainda bem. Afinal, eu sou como todo ser humano: uma metamorfose ambulante. E é por causa dessa capacidade mutante que a vida se torna cada dia uma caixa de infinitas surpresas.

Não posso dizer o quanto é extremamente impossível segurar a vontade de sentir saudade de certas épocas que nos marcaram. Algumas consideradas como ritos de passagem, como é o caso de uma faculdade. Ah, aqueles quatro anos de estudos e descobertas pessoais e profissionais com certeza são inesquecíveis e até merecem um espaço para eles em um futuro texto. Também não dá para esquecer, infelizmente, de todos os momentos de dificuldade ocorridos tanto na época citada como nos posteriores a ela. O mesmo pode se dizer de quando e como foi possível superar cada uma dessas barreiras, além do quanto tudo isso foi necessário para me fortalecer me tornar uma pessoa madura o suficiente para sobreviver nesse mundo difícil como adulto.

Enfim, o tempo é assim: histórias com inicio, meio e fim. Páginas e páginas escritas pela vida e sempre lidas com doses de emoções variadas. Por isso é que devemos lembrar o passado com saudade e viver o presente com toda a intensidade. Sendo assim, o futuro estará em constante transformação e será o que fizermos dele.